Abandonado (Vinícius Pinheiro)

Título original: Abandonado

Autor: Vinícius Pinheiro

Páginas: 184
Editora: Geração

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Vou começar dizendo que Abandonado foi uma leitura diferente. Não pelo tema, não pela narrativa, mas pela construção e trama. Lamento se não conseguir colocar em palavras meus sentimentos em relação a obra.

Na nossa terrível rotina, tudo se perde, tudo se mistura. Estamos aqui, todos nós lutando diariamente contra a rotina e contra um fim inevitável. Entre nós encontra-se Alberto Franco, um homem que sonha em crescer, encontrar seu lugar no meio profissional. Vezes jornalista, vezes roteirista, suas grandes aspirações sempre foram os roteiros, incríveis projetos que poderiam fazê-lo crescer profissionalmente e ser conhecido por tantos outros aclamados. Mas é uma luta diária que, em geral, é árdua. A oportunidade surge com o charme de uma atriz e dubladora de boa lábea e corpo, que o convida a participar do roteiro de seu novo filme. Uma relação um tanto quanto estranha nasce entre eles, e a paixão acaba tornando-se inevitável.


Abandonado não tem um foco só, uma direção só. É um livro amplo, que segue de acordo com seu protagonista, vivendo pelas diversas áreas e sofrendo pelos diversos motivos. Não se delimita a somente um caminho mas aos vários que podem se abrir para o protagonista.
As narrativas em primeira pessoa sempre me cativaram. Me sinto tão íntima e tão parte daquela história, que é como se não houvesse uma barreira entre nós. A narrativa em primeiro pessoa por Alberto Franco não poderia ter sido diferente. Ainda mais pela presença forte do personagem, que tem um jeito irônico e um humor negro somente seu. Mesclando cenas dramáticas com comentários hilários, há uma variação de humor no leitor maravilhosa em um livro tão curto. Sua narração é crua e sem rodeios, passando-nos dos seus pensamentos mais amáveis aos mais doentios, falando-nos diretamente. Essa objetividade me conquistou.

"Se não fosse por você, que agora me lê, o que seria de Alberto Franco? Estamos no mesmo barco, eu e você, guardando rebanhos inexistentes".

A obra segue esse fluxo amplo da vida do protagonista, nos mostrando seus percalços e loucuras, suas idas e vindas do amor, do emprego, da sanidade, de tudo. Chega um momento em que a rotina dele parece minha rotina, tão íntima é sua narrativa. Contudo, não só carinho esse peculiar personagem me despertou. Ao final sua dependência e corpo mole para certas atitudes chegaram a me incomodar, soando redundante todas aquelas ações. Fiquei com aquela sensação de incredulidade: mas de novo, Franco?

O final me deixou em um estado de choque e confusão pura, não por falta de explicações, mas pela proporção da minha surpresa. A obra toda não traz indícios tão profundos do final, nada que te prepare para a enxurrada de surpresa e loucura. Mas preciso comentar que este final, ainda que volumoso (coloquemos assim), fechou a obra com chave de ouro. Mostrou mais uma vez a peculiaridade desta obra.

A edição da Geração Editorial está muito agradável, isenta de erros e com boa revisão. As páginas são brancas, mas creio que as loucuras do protagonista serão tão intensas que te farão esquecer deste detalhe, que a mim não incomodou.

"Se eu pudesse dar um conselho ao bebê, diria para que aproveitasse ao máximo aqueles nove meses de estadia. Desde os longínquos tempos de feto, todos os lugares onde vivi me pareceram inóspitos."

Em suma, eu gostei deste livro de uma maneira singela e confusa. O terminei querendo desesperadamente alguém para conversar a respeito, debater sobre a sanidade do protagonista e seus feitos, confirmar suspeitas a respeito da trama... Mas nada disso seria possível isento de spoilers. Portanto, leiam a obra e me chamem para um bom café, ok? Estou precisando. Super recomendo a leitura.